A palavra cão não morde, não podemos comer a palavra laranja nem residir na palavra apartamento.
Na famosa cena da varanda de Romeu e Julieta, ela diz: “Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem.” (1) Nessa passagem da peça, Julieta reflete sobre o conteúdo semântico e pragmático da palavra.
O conteúdo semântico é fixo, descontextualizado; só num determinado contexto adquire significado pragmático.
Se ouvirmos alguém dizer: “Não esqueças o café”, isso tanto pode significar “Bebe o café, senão ele arrefece”, quanto “No supermercado, não te esqueças de comprar café”. (2)
A palavra favorita da poeta Maria Teresa Horta é Corpo; a do surrealista Artur do Cruzeiro Seixas é Amor; a de Marcelo Rebelo de Sousa é Cristo; e a do escritor José Luís Peixoto é Calicatri (3), que ele próprio inventou.
E a sua palavra favorita, qual é? Já agora: alguma vez inventou uma palavra?
Referências:
- Shakespeare, W. (1597/2003). Romeu e Julieta (M. Tamen, Trad.). Lisboa: Relógio D’Água. (Obra original publicada em 1597)
- Nascimento, Z., & Castro Pinto, J. M. (2001). A dinâmica da escrita: Como escrever com êxito (1.ª ed.). Lisboa: Plátano Editora. ISBN 972-770-132-9.
- Reis-Sá, J. (Ed.). (2007). A minha palavra favorita (1.ª ed.). Vila Nova de Famalicão: Edições Centro Atlântico. ISBN 978-989-615-055-6.
-
Criado por Rui Sousa Basto

